Ao longo de doze meses, pinguins, albatrozes, tartarugas e outras espécies ameaçadas foram socorridas em 54 quilômetros de litoral, entre Unamar (Cabo Frio) e a Prainha (Arraial do Cabo).
A execução do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BC/ES), operado pelo Instituto Albatroz com apoio da Petrobras, acaba de completar um ano de atividade contínua na Região dos Lagos. Desde o início da operação, em 10 de junho do ano passado, as equipes resgataram 216 animais marinhos com vida, entre aves e tartarugas, e recolheram outros 353 já sem sinais vitais. As ações cobrem 25 praias em Cabo Frio, Búzios e parte de Arraial do Cabo.
Com apoio do Ibama, o projeto atende exigências de licenciamento ambiental federal e tem como objetivo mitigar os impactos da indústria do petróleo sobre a fauna marinha. Além do monitoramento diário a pé e com quadriciclos, o Instituto Albatroz atua no resgate e reabilitação de animais que encalham ou são encontrados debilitados.
Ao todo, 55 solturas de animais reabilitados foram realizadas neste período, incluindo um grupo de oito pinguins-de-Magalhães e um albatroz-de-nariz-amarelo, além de espécies raramente vistas na região, como petréis-gigantes, pardelas e o rabo-de-palha-de-bico-vermelho.
As aves marinhas reabilitadas são marcadas com anilhas metálicas para posterior identificação. No caso dos pinguins, a identificação ocorre por meio de nanochips implantados sob a pele. Esses marcadores permitem acompanhar os indivíduos se forem encontrados novamente, inclusive em outros estados. O tratamento e reabilitação são feitos por veterinários e tratadores no Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) em Araruama, de responsabilidade do Instituto Albatroz. As tartarugas, após estabilização, são encaminhadas ao CRD do Instituto BW.
Desafios à fauna marinha
Apesar dos bons resultados, o cenário ainda é desafiador. Muitas das mortes de aves e tartarugas registradas estão diretamente relacionadas à ingestão de plásticos descartados nas praias ou à alimentação inadequada dada por banhistas. Necropsias revelam frequentemente a presença de resíduos não biodegradáveis, como isopor, linhas de pesca, balões e embalagens no trato digestivo dos animais.
Isso escancara o impacto direto das ações humanas sobre a vida marinha e reforça a necessidade de ações educativas e de fiscalização nas áreas litorâneas. É comum, por exemplo, que banhistas tentem alimentar ou manusear animais debilitados, o que pode agravar ainda mais seu estado.
Durante o inverno, de junho a setembro, a chegada de pinguins à costa aumenta. Eles vêm da Patagônia em busca de alimento e águas mais quentes, mas muitos não resistem à travessia. Nesses casos, a recomendação é clara: ao encontrar um pinguim na praia, não tente devolvê-lo ao mar, não o alimente e evite tocá-lo. Fotografar ou se aproximar demais também pode piorar sua condição. A orientação é acionar imediatamente o PMP pelo telefone 0800 991 4800.
O Projeto de Monitoramento de Praias surgiu como parte das obrigações de licenciamento ambiental federal da Petrobras, conduzido pelo Ibama, e atua em quatro frentes: nas bacias de Campos, Santos, Espírito Santo, Sergipe-Alagoas e Potiguar. No total, o projeto cobre mais de 3 mil quilômetros da costa brasileira em 10 estados.
Além do monitoramento das praias, a iniciativa inclui atendimento veterinário a animais marinhos vivos e necropsia dos encontrados mortos. Os dados coletados são cruciais para traçar políticas públicas de conservação da biodiversidade marinha e avaliar impactos ambientais das atividades de extração de petróleo e gás.
Instituto Albatroz: uma década em Cabo Frio
Desde 2014 presente em Cabo Frio, o Instituto Albatroz também lidera o Projeto Albatroz, com o objetivo de proteger aves oceânicas como albatrozes e petréis. A organização, que é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), trabalha em parceria com pescadores, empresas e o poder público, promovendo ações de educação ambiental e conservação.
A sede em Araruama abriga um Centro de Visitação e Educação Ambiental Marinha, onde o público pode conhecer de perto os ecossistemas da Região dos Lagos, entender o impacto das ações humanas nos oceanos e se conectar com a vida marinha de forma responsável.
Para acionar o resgate de animais marinhos na Região dos Lagos, entre em contato com o PMP-BC/ES pelo número gratuito: 0800 991 4800.